Sandra Souza-Neuropsicanalista Clínica e Psicoterapeuta
Pais e terapeutas precisam parar de achar que criança deve ser alegre, feliz e vibrante o tempo todo só porque é criança.
A frustração é parte da vida humana, o ficar triste também é parte da estrutura de nossa existência, querer tirar esses momentos da criança, com o argumento fraco de que criança deve ser feliz e alegre o tempo todo, é uma brutalidade tremenda.
Continue a leitura e entenda o seguinte texto sobre o tema:” Eu só quero ser feliz “.
Os pais, as escolas (atendendo a demanda dos pais) e até muitos terapeutas, estão guiando cegamente as crianças a buscarem apenas a felicidade na existência. Essa é a receita do bolo das enfermidades emocionais que vemos crescer a cada dia mais.
Pais dizem que a filha não tem motivos para estar triste, “essa menina tem tudo” – “Esse garoto é um ingrato, fazemos tudo por ele e ainda assim, fica desse jeito de bico?!”
Essas falácias vemos repetidas o tempo todo por muitos pais, sem perceberem a gravidade do que dizem. Se sua filha tem tudo, você está justamente criando alguém que nunca irá se satisfazer com nada.
Se seu filho não precisa fazer nada porque vocês fazem tudo POR ele, então ele nunca vai conseguir se virar quando a vida lhe afrontar.
Essas crianças vão se tornar adultos emocionalmente doentes, com excesso de sentimentalismo, dependentes de aprovação dos outros, necessidade de assistência constante dos pais e incapacidade de lidar com conflitos externos e internos. Estamos criando doentes.
Seu filho não pode ser criado na ilha da fantasia, achando que sorvete é de graça e abundante, que aquela máquina que a mamãe coloca o cartão, sai dinheiro quando ela quer. Cuidado com a superproteção, ela é uma armadilha, você protege em excesso seus filhos hoje, para serem massacrados pela vida amanhã.
Claro que se uma criança apresenta um quadro constante de tristeza e apatia, deve-se buscar ajuda. Mas a questão aqui não são esses casos, mas sim a banalização de sentimentos precisos para o desenvolvimento da musculatura da existência saudável.
Um músculo não se desenvolve sem exercício, não se aprende a lidar com uma situação, apenas a abafando, não se aprende sem experiência.
Portanto, o alerta aqui é não banalizem a tristeza ou frustração, elas não devem ser impedidas e proibidas, devem ser cuidadas, deve-se ensinar as crianças a identificarem esses sentimentos e entenderem como lidar com eles, e as vezes, eles vão precisar senti-los com maior intensidade, é a vida, faz parte.
A tirania da felicidade não tem ajudado muito não é verdade? Nos últimos 20 anos a literatura, cursos e conselhos sobre felicidade explodiram, a criação e fabricação de remédios para o tratamento das enfermidades emocionais aumentaram absurdamente, mas os números de depressivos e ansiosos só cresce, entende?
A tirania da felicidade criou um mercado que “atende” a demanda de pais que querem que, na escola, seus filhos continuem a serem servidos com tudo que tem direito, sem limites, as escolas por consequência, são hoje centros de fabricação da felicidade.
O ensino nem sempre está na equação e muitos terapeutas e médicos, estão aderindo a tratar com medicação e não com observação, análise, criticidade e mediação, estão na onda do mercado. Atenção e cautela são essenciais.